Atividade sociocultural e histórica
específica, orientada por finalidades, objetivos, concepções, conhecimentos e
valores, que se realiza em um processo de trabalho planejado nas instituições
de educação de crianças de zero a cinco anos. A prática pedagógica é uma
dimensão da educação, cuja finalidade é historicamente determinada e abrange
práticas formativas, durante as quais ocorrem processos de socialização,
transmissão, divulgação e apropriação de conhecimentos historicamente
produzidos pelos diferentes grupos humanos e classes sociais nas mais variadas
formas de interação que se estabelecem entre os homens e destes com o mundo
sócio-material e cultural. Consideram-se também as possibilidades de criação e
transformação dos conhecimentos já existentes, à medida que a educação envolve
sempre seres ativos e em condições de constituir outras formas e processos de
agir,sentir, pensar, representar (BARBOSA, 1997). Nesse processo, o professor é
determinado e determina as relações que estabelece e projeta no seu trabalho,
tanto no que se refere às finalidades e objetivos que assume no planejamento, como
no que efetivamente realiza desse plano. Autores que discutem o campo da
educação e do trabalho educativo (RIBEIRO, 1991; FREITAS, 2000) enfatizam o
conceito de práxis (MARX; ENGELS,1989; VÁSQUEZ, 1977). Referem-se à prática
pedagógica como atividade do professor dirigida por finalidades e
conhecimentos, decorrente, portanto, de uma determinação de natureza teórica. É
possível afirmar, partindo dessas premissas, que a atividade educacional do(a)
professor(a) de Educação Infantil precisa ser compreendida a partir da relação
teórico-prática, assumida como uma relação recíproca, em que a prática é
referência vital para a organização do pensamento teórico de todo professor, mas
que, ao mesmo tempo,não pode ocorrer isolada desse processo de análise e
síntese proporcionada pelo ato cognoscitivo. Ao constituírem suas práticas
pedagógicas, assumindo uma metodologia de trabalho e fazendo escolhas quanto ao
direcionamento dos processos e atividades necessários para o desenvolvimento do
trabalho cotidiano na instituição de educação infantil, os professores podem
analisar e compreender esse processo e seus desdobramentos numa perspectiva
ampla, criativa e crítica. Dessa ótica, a práxis pode primar pelas
especificidades e singularidades da criança e do conhecimento, de modo que as
vivências infantis se constituam como parte da construção do caráter humanizado
das experiências, além de favorecer a constituição de novos conhecimentos,
valores éticos e estéticos e de práticas.
A prática pedagógica constitui-se,
pois, em parte essencial da Educação Infantil e abrange um conjunto de ações
articuladas, assumidas intencionalmente pelo(a) professor(a), com base em
concepções de sociedade,de educação, de criança, de aprendizagem e
desenvolvimento. Nesse sentido, ela está sempre situada em um contexto
específico e é indissociável do Projeto Político Pedagógico, das condições
materiais e conceituais que demarcam os processos do campo de trabalho do professor,
da organização do trabalho da creche ou da pré-escola, das relações destas com
a comunidade e a sociedade, extrapolando a dimensão da atuação direta com as
crianças e das atividades didáticas. Estudiosos e pesquisadores da Educação
Infantil têm utilizado a categoria de mediação pedagógica como constituinte da
práxis dos professores de Educação Infantil. Essa abordagem sobre o papel do
professor não é certamente a única. Existem ainda, por exemplo, práticas
educativas que refletem orientações teóricas e epistemológicas positivistas e
tradicionais, que centram o processo interativo nas ações do professor e no rol
de atividades prévias e rigidamente preparadas pela instituição. Em outro
extremo, encontram-se práticas espontaneístas e improvisadas e que não assumem
mediações importantes do ponto de vista do conhecimento e das relações humanas
com as crianças.
Autores clássicos como Vygotsky
(2001) e Wallon (1975) e contemporâneos como Oliveira-Formosinho (2007),
Barbosa e Horn (2008), entre outros, propõem, como princípio na educação
infantil, a construção de um campo dialógico e democrático, no qual a criança ganha
vez e voz, mas que não fala sozinha, já que o adulto, parceiro e sensível às
suas necessidades, estão com ela em diferentes momentos. Reconhece-se a criança
como sujeita de direitos e ativos na construção de conhecimentos. Essa
concepção requer que no planejamento se organize dinamicamente os processos de
cuidado e de educação, expresso sem temáticas e atividades, de tal forma que
elas abranjam movimentos, tempos e espaços adequados e compartilhados,
podendo-se constituir possibilidades de aprendizagens significativas e novos
níveis de domínio dos processos físicos, afetivos e psíquicos pela criança,
preparando-a para assumir uma postura autoconfiante, autônoma, ética e crítica.
Diante das exigências e da especificidade do trabalho pedagógico na Educação Infantil, a rotina e seus
elementos constitutivos aparecem como algo desejável quando não utilizadas
apenas na função de controle e regulação. Aponta-se para práticas pedagógicas
que favoreçam a: imaginação, criatividade, alegria, afetividade, reconstrução de modos de viver o que está proposto,
compreensão dos conflitos. Assume-se o brincar como uma das atividades
principais da infância até os cinco anos (LEONTIEV, 1988), fundamental para o
processo de aprendizagem e desenvolvimento, na formação social e cultural
infantil. Consideram-se os seguintes aspectos e atividades na prática
pedagógica a fim de primar,por experiências concretas, expressões e relações
multifacetadas: as múltiplas linguagens, a corporeidade e o movimento,
atividades artísticas (artes visuais, música, artes cênicas, literatura) e que
envolvam várias áreas de conhecimento (matemática, ciências naturais e
sociais), a imaginação e criação.
Artigo
de IVONE GARCIA BARBOSA
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