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quinta-feira, 26 de setembro de 2019

GÊNERO TEXTUAL LENDA: "A GARÇA BRANCA E O PEIXE DOURADO"


       
Gênero Textual: Lenda
Texto de: Prof. Luiz José

  Essa é uma história muito antiga que se passou na Ilha de Maratayama, hoje conhecida como Ilha Comprida e foi há muito tempo, antes dos colonizadores portugueses por aqui chegarem. 
   Vivia ao sul dessa Ilha, uma tribo de índios Carijós e, entre eles, um grande guerreiro de nome Obajara. Os Carijós conviviam muito bem com os índios Tupiniquins, que eram seus vizinhos e estes sempre estavam em guerra com os Tupinambás, índios ferozes do norte.

  Numa dessas investidas Obajara foi aprisionado pelos Tupinambás de Bertioga. Lá, ele seria sacrificado pelos seus inimigos e também devorado num ritual. Quando estava preso ele conheceu Botira, uma jovem Tupinambá e filha do grande Pajé e feiticeiro Ypané
   Obajara e Botira se apaixonaram, deixaram suas diferenças tribais de lado e, com a ajuda da amada Botira, fogem da aldeia Tupinambá em Bertioga e seguem rumo a Maratayama.
Ypané, quando soube que Obajara e Botira haviam sumido, saiu em perseguição juntamente com vários guerreiros até chegarem às margens do Rio Candapuí, já na Ilha de Maratayama, onde ele avistou sua filha e o fugitivo Carijó.
Imaginava ele que Botira havia sido levada à força por Obajara e quando o velho e poderoso Pajé ia matar seu inimigo, Botira intercede dizendo a seu pai que amava Obajara e que queria viver com ele. Com muita raiva e sentindo-se traído pela própria filha, Ypané lança um feitiço no casal com a ajuda de Anhangá, um deus das matas e inimigo de Tupã, que transforma então Botira em uma garça branca e Obajara em um peixe dourado.
   Até hoje, há quem veja Botira, procurando seu amado Obajara, pelos rios, gamboas, canais, igarapés e lagos de Ilha Comprida. Diz a lenda que, quando se encontrarem e se entreolharem o feitiço irá se desfazer e poderão viver o seu grande amor para sempre.
 











ORALIDADE E ESCRITA


Autor: Anne-Marie Chartier, Isabel Cristina Alves da Silva Frade,
Instituição: Laboratoire de Recherche Historique Rhône-Alpes / École Normale Supérieure de Lyon/França, Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG / Faculdade de Educação - Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita-CEALE,
(Tradução de Ceres Leite Prado)

        A relação entre a oralidade e a escrita é tema de estudo de várias áreas de conhecimento e, dependendo da abordagem escolhida, esses termos podem aparecer em uma relação de oposição ou de integração. A oposição entre escrita e oralidade foi utilizada como a grande divisão que separa as sociedades históricas e pré-históricas, civilizadas e selvagens. Os etnólogos que estudaram os costumes ameríndios, africanos e dos habitantes da Oceania mostraram que a narrativa mítica sempre prevaleceu sobre a análise lógica, os rituais de iniciação sobre as transmissões formais, o ver fazer e o ouvir dizer sobre o procedimento científico. Contudo, a crença de que a oralidade induziria a um pensamento pré-lógico deixou de ser dominante após o fim do colonialismo. A Psicologia, por sua vez, descreveu a gênese das funções psicológicas e simbólicas, analisando como o discurso oral de uma criança se transforma em discurso interior, isto é, em pensamento. Esse processo acontece tanto com crianças que vivem em sociedades ágrafas (sem escrita) quanto com crianças que convivem cotidianamente com a escrita. Já a Sociologia analisou a face oculta da cultura escolarizada, os saberes inscritos em redes de poder, a violência simbólica das classificações eruditas vinculadas exclusivamente ao domínio da escrita.

        A existência da escrita acarreta várias consequências na construção de registros, na mudança de lugares de poder e nos sistemas de funcionamento da sociedade. A escrita modifica o sistema jurídico (contrato escrito versus palavra dada), confere à pessoa instruída autoridade sobre o iletrado –, mas não anula as culturas populares em que persistem tradições orais e transmissões práticas. A oposição popular/erudito, que reduz a cultura escrita aos discursos teóricos mais formais, esquece que os letrados também falam e que, simultaneamente ao uso da escrita, a oralidade é uma modalidade fortemente presente nas interações sociais.

        A oposição oralidade/escrita aponta não só as distâncias e transferências entre a voz e a letra, mas também sua coexistência instável nas diversas interações sociais que praticamos. As novas mídias que circulam na sociedade e na escola mesclam recursos orais, verbais e visuais, colocando em questão as grandes divisões entre o que constitui as especificidades da escrita e as da oralidade. As mídias audiovisuais nos habituam a considerar como oral o que é uma escrita falada: apresentadores de rádio e televisão leem textos previamente elaborados; palestrantes e conferencistas também preparam suas falas por escrito, mas é preciso dar a esses usos da palavra a aparência de uma expressão oral espontânea.

        A escola trabalha com uma cultura escrita, com dispositivos que são organizados pela escrita, como livros, cadernos, fichários, quadros e tabelas. Os escritos que circulam nesses materiais acabam conduzindo a um modo de se expressar e pensar que é nutrido pelo modelo escrito e pelos poderes da escrita. No entanto, a escola é, além disso, espaço de encontro de culturas da oralidade, quando os alunos produzem textos orais de sua tradição familiar e de seus grupos de convivência, quando diferentes falares convivem no espaço escolar, quando muitos conhecimentos são transmitidos pela via da oralidade. A presença de escritos na vida social ou escolar e as tecnologias têm modificado as fronteiras entre a escrita e a oralidade: fala-se a distância (por telefone), a pessoas ausentes (recados na secretária eletrônica); dialoga-se por escrito (através de emails, chats, tweets). O oral passa a deixar seus traços em registros escritos e os numerosos escritos podem ser efêmeros como a fala. A grande diferença entre os modos de funcionamento oral e escrito deve ser relativizada quando as sociedades se tornam letradas. Além disso, a existência da escrita não é marco para estabelecer o fim de algumas práticas sociais que ocorrem numa cultura típica da oralidade.


Referências bibliográficas:


BOURDIEU, P. A distinção: critica social do julgamento.Porto Alegre: Zouk. 2013.
GOODY, J. A domesticação da mente selvagem. Petrópolis: Vozes, 2012.
LEVI-STRAUSS, C. O pensamento selvagem. São Paulo: Nacional, 1976.
VIGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1987. (Coleção Psicologia e Pedagogia)


Texto extraído de Portal Ceale* in:  <http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/oralidade-e-escrita> Acesso 26/09/2019 as 13:00H.