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m 2019, o mundo celebrou os 500 anos da morte de Leonardo da
Vinci (1452-1519). Artista e inventor, o italiano é considerado um dos
expoentes máximos do Renascimento europeu. Para muitos, ele também seria o
maior gênio de todos os tempos.
Leonardo Da Vinci morreu em 2 de maio de 1519, aos 67 anos.
Viveu seus últimos dias na França, sob a proteção do rei Francisco 1º, o último
mecenas do artista. O rei francês proporcionou uma casa e um generoso salário
para que Leonardo exercesse as funções de pintor, engenheiro e arquiteto real.
Da Vinci
era multidisciplinar e possuía conhecimentos em diversas áreas, tendo deixado
inúmeros estudos e invenções. Para ele, a ciência e a arte eram coisas que não
se separavam. Entre as funções exercidas por ele estão a de pintor, escultor,
cientista, engenheiro, anatomista, matemático, escritor e arquiteto. Ele era um
exímio observador da natureza, sendo esta a grande ferramenta da sua
criatividade.
Cerca de
500 anos após sua morte, Da Vinci continua a fascinar o mundo. Ele abriu
caminhos para diversos estudos e algumas de suas invenções tiveram de esperar
séculos para que a tecnologia evoluísse e permitisse a sua construção.
Conheça alguns aspectos do contexto histórico em que Leonardo
da Vinci viveu e seu legado.
Pinturas
Leonardo
não deixou mais do que vinte pinturas. O mais conhecido é Mona Lisa, talvez o
quadro mais famoso do mundo. Ele retrata uma mulher com olhar e sorriso
misteriosos e está exposto no Museu do Louvre, em Paris.
A segunda
obra mais conhecida é a Última Ceia, afresco que representa a última ceia de
Jesus, localizado na parede de uma igreja de Milão. Outra obra consagrada é A
Virgem dos Rochedos, um conjunto de duas pinturas de composições quase
idênticas. Uma está exposta no Louvre e a outra na National Gallery de Londres.
As
compilações de alguns manuscritos de Leonardo originaram o Tratado de Pintura,
o primeiro conjunto de dados que levariam à criação de uma teoria das cores.
Leonardo definia as cores primárias como aquelas que não podem ser feitas da
mescla de outras. Seus estudos têm origem em suas observações científicas (por
exemplo, da análise dos efeitos da luz solar), aplicadas e comprovadas
esteticamente na pintura.
Renascimento
O
Renascimento é o período que marca a passagem da Idade Média para a Idade
Moderna, entre os séculos 14 e 16. É um momento de de efervescência cultural,
econômica, política e científica, marcado por transformações no campo do
pensamento como um todo.
A
concepção medieval do mundo foi contraposta por uma nova visão. Houve a
redescoberta e revalorização das referências culturais dos antigos gregos e
romanos e a valorização do ser humano e da natureza.
O
humanismo (ou antropocentrismo) indica uma nova forma de conhecimento de si e
do mundo. Ele diverge da perspectiva teocêntrica medieval, ainda que estivesse
em confluência com a cultura cristã.
Da Vinci
simboliza o homem do Renascimento. Nesse período, a tradição europeia formava
pessoas com um amplo conhecimento nos campos da técnica, da ciência e da arte.
Os mecenas italianos
Impulsionada
pelo dinheiro do comércio marítimo, a Itália se tornou o local de maior
expressão do Renascimento. O movimento manifestou-se primeiro na região
italiana de Toscana, tendo como principais centros as cidades de Florença e
Siena. De lá, se difundiu para o resto da península itálica e para a Europa
Ocidental.
A cidade
de Florença representava o epicentro das artes na Renascença. Nesse cenário,
floresceu a instituição do mecenato, na qual famílias abastadas patrocinavam
artistas e cientistas. Os artistas recebiam encomendas e alguns tinham salários
para produzir.
A família
Médici, composta por banqueiros, era uma das mais poderosas de Florença e tinha
especial interesse pela cultura. Os Médici financiaram a construção de
mosteiros, bibliotecas, igrejas e academias de arte. O investimento dava
prestígio e reconhecimento na sociedade. A família patrocinou praticamente
todos os artistas renomados da época, como Sandro Botticelli, Michelangelo,
Donatello, Rafael e muitos outros.
Leonardo
da Vinci nasceu em 15 de abril de 1452, perto de Vinci. Ele era filho ilegítimo
de um notário florentino e de uma camponesa. Aos quinze anos, o jovem se tornou
aprendiz do grande artista Andrea del Verrocchio, em Florença.
O mestre
florentino o ensinou a pintar, fazer esculturas e a realizar projetos de
aparelhos mecânicos. Sob a tutela de Verrocchio, Da Vinci começou a trabalhar
para a corte de Lorenzo de Médici, um grande mecenas italiano. Depois de
Florença, Da Vinci se mudou para Milão, onde trabalhou como pintor e engenheiro
para o duque Ludovico Sforza, um notável patrono das artes.
Codex Atlanticus
Da Vinci
tinha o hábito de anotar os estudos em cadernos. Ele acreditava que ao observar
os objetos e a natureza com precisão, poderia ser capaz de adquirir
conhecimentos científicos. A maior parte desses estudos está no Codex
Atlanticus, uma coleção de documentos constituída por doze volumes. São 1.750
desenhos do artista e cem páginas de anotações sobre diversos assuntos como
botânica, anatomia, música, engenhocas militares, pinturas, entre outros.
Anatomia humana
Na
medicina medieval, por questões religiosas, era proibida a observação direta do
corpo humano através de dissecações. O Renascimento quebrou essa barreira.
Nessa época, artistas como Leonardo aproximaram-se de médicos-anatomistas para
retratar melhor a forma humana em pinturas e esculturas.
Da Vinci
realizou estudos anatômicos que demonstram com precisão os detalhes do corpo
humano, considerado por ele como a mais perfeita fonte de simetrias.
Autodidata, o italiano estudava obras de autores da medicina e praticava
dissecações em cadáveres. Seus cadernos eram repletos de centenas de desenhos
de órgãos, do esqueleto, dos músculos e tendões.
Certa
vez, Leonardo dissecou o corpo de um homem de 100 anos que havia morrido em um
hospital. Ele queria descobrir a causa de sua morte. Foi através da dissecação
que Da Vinci descreveu, pela primeira vez, a aterosclerose o entupimento de uma
artéria em decorrência do acúmulo de gordura.
Geometria e arquitetura
Leonardo
dava muita importância à matemática e geometria. "Que nenhum homem que não
seja matemático leia os elementos de minha obra", escreveu o mestre. Seus
cadernos revelam um conhecimento profundo dos teoremas de Euclides e Pitágoras,
que aplicava em figuras geométricas e em obras de arquitetura, onde determinou
a simetria de projetos de igrejas poligonais.
Proporção áurea
A razão
áurea ou proporção áurea é uma proporção matemática considerada harmônica, que
despertou o interesse de muitos matemáticos na Idade Média e durante a
Renascença. Ela consiste numa relação matemática segundo a qual a divisão da
medida do pedaço maior pelo pedaço menor de uma linha é igual à divisão da
linha inteira pelo pedaço maior.
O
resultado obtido é de aproximadamente 1.61803398875. Este valor é chamado de
"número de Ouro" ou fi, letra grega, cujo nome é uma homenagem a
Fídeas, escultor da Grécia Antiga que a teria utilizado para conceber o
Parthenon.
A
proporção áurea é usada desde a Grécia Antiga e foi muito utilizada por
artistas da renascença na composição de seus quadros. Uma construção geométrica
que leva a um resultado harmônico começa com um retângulo onde a razão entre a
largura L e a altura H seja justamente fi. Esse é um retângulo áureo.
A maior
parte das pinturas de Leonardo obedecem ao padrão áureo. Em 1509 foi publicado
um tratado do matemático e frade Luca Pacioli, De Divina Proportione, ilustrado
por Leonardo da Vinci. Reproduzido em 1956, é um compêndio da aparição do fi em
várias figuras planas e sólidas.
Homem Vitruviano
Leonardo
acreditava que as regras matemáticas regiam as proporções ideais do corpo. Um
dos seus desenhos mais icônicos é o Homem Vitruviano, produzido entre 1486 e
1490. Ele é baseado numa passagem do arquiteto romano Marcus Vitruvius Pollio
(1 a.C), que descreve a importância da proporção e simetria.
Da Vinci
interpreta e ilustra a questão da proporção humana. Ele traz a figura humana
masculina em duas posições distintas e simultâneas, com os braços inscritos num
círculo e num quadrado. O umbigo está no centro do círculo, a altura do homem é
igual ao alcance de seus braços estendidos e essas medidas formam um quadrado
que contém o corpo humano em sua totalidade.
Estudiosos
da arte renascentista avaliam que a obra sintetiza o ideal clássico daquela
época, do equilíbrio, da beleza e da harmonia. No desenho, a área total do
círculo é idêntica à área total do quadrado (quadratura do círculo) e este
desenho pode ser considerado um algoritmo matemático para calcular o valor do
número fi.
Ao
colocar o homem no centro e demonstrar que ele se encaixa perfeitamente nas
duas figuras, Da Vinci também evoca o humanismo, vinculando o homem à ordem
cósmica e o colocando no centro queria transmitir a ideia de que o corpo é em
si um pequeno universo.
Máquinas voadoras
Da Vinci
estudou o voo dos pássaros e descreveu com precisão inédita como esses animais
manipulavam o ar para voar no céu. A partir da tentativa de reproduzir o
movimento das asas dos pássaros, ele criou diversos protótipos mecânicos
voadores.
O mais
famoso é o ornitóptero, o precursor da asa-delta atual. Inventado em 1488,
consistia em um tipo de planador com asas acionadas pelo próprio piloto, mas
que nunca poderia sair do chão, pois não há ser humano com força suficiente
para dar propulsão à máquina.
Outro
projeto ousado é um paraquedas que lembra uma tenda, com cordas presas a uma
estrutura piramidal de varas de madeira. É o primeiro desenho de um artefato
desse gênero.
Robôs
O
inventor era fascinado por objetos autômatos, aqueles que se operam de maneira
automática. Leonardo da Vinci criou máquinas que podem ser consideradas
percursoras de robôs, mas que eram movidas a força mecânica. Elas funcionavam
como brinquedos de corda. Mas isso não equivale a dizer que fossem máquinas
simplórias. Ao contrário, eram incrivelmente sofisticadas. Uma das máquinas
famosas era a de um leão mecânico, capaz de dar vários passos sozinho e que
abria automaticamente seu peito para deixar sair dele uma braçada de lírios,
flor símbolo da monarquia francesa.
Outra
máquina de destaque é o chamado cavaleiro-autônomo. Um sistema de engrenagens,
cabos e pesos dentro do boneco mecânico permitia que ele realize movimentos
como abrir e fechar o visor, mexer os braços, se sentar e se levantar sozinho.
Máquinas bélicas e
hidráulicas
A
engenharia hidráulica foi um dos campos em que mais trabalhou. Ainda jovem, ele
foi contratado para tornar o rio Arno navegável até o mar. Ele também trabalhou
em projetos de assoreamento de pântanos e inventava máquinas para serem usadas
em construções de prédios.
Por Carolina Cunha, da Novelo
Comunicação
in: Portal UOL <https://vestibular.uol.com.br/resumo-das-disciplinas/atualidades/educacao---leonardo-da-vinci-500-anos-da-morte-do-genio-renascentista.htm>